sexta-feira, 31 de agosto de 2012

EU ESCOLHO MINHA MORTE - VIVER É UM DIREITO, NÃO UMA OBRIGAÇÃO

Eu escolho minha morte

Assim transcorreram os últimos dias de uma doente terminal que decidiu deixar de viver e pediu ajuda
Por Rodrigo Carrizo
Josiane Chevrier sofria de um câncer terminal que havia transformado sua vida em um pesadelo sem escapatória. Na Suíça, onde vivia, é legal ajudar uma pessoa que queira se suicidar. Existem inclusive associações que se encarregam disso. "El País" esteve com essa mulher e com os voluntários da Exit que puseram ao alcance de sua mão um veneno misturado com suco de laranja.

O encontro foi às 8 da manhã de um sábado gelado, há oito dias. Depois de um longo trajeto em uma estrada de montanha, os voluntários da associação e o cronista chegaram pontualmente à modesta casa de Josiane Chevrier, de 68 anos, onde os esperavam uma de suas três filhas, Anne, 42, e sua neta Julie, 20. Suas duas outras filhas haviam se despedido com um jantar na noite anterior. Não tiveram forças suficientes para assistir a um acontecimento difícil, controvertido, arrasador, que beira sinuosamente a estreita linha entre a legalidade e a ilegalidade, entre a ética e a realidade: o suicídio de sua própria mãe.

A paciente, tranqüila, parecia ansiosa para começar o procedimento de eutanásia, que aqui chamam de "auto-entrega".

É assim: dois acompanhantes, voluntários de uma associação cujo objetivo é ajudar os suicidas, perguntam ao paciente se está realmente decidido. Josiane estava. O resto é simples. Deram-lhe duas pílulas que têm como missão abrir a digestão e impedir os vômitos. Depois lhe dão 20 minutos para refletir e despedir-se de parentes e amigos.

Dissemos simples? Josiane empregou esses 20 minutos para falar com sua filha e sua neta em particular. Também para ler para si mesma uma oração que havia escrito dias antes. Depois pediu para sua filha não chorar. Em uma mesa havia um copo com uma dose letal de pentobarbital misturado com suco de laranja. Com um incrível senso de humor, Josiane comentou que pela cor a "poção mágica" parecia um copo do aperitivo Cynar.

O pentobarbital, utilizado como poderoso anestésico, é mortal a partir de 5 gramas. No copo que Josiane tomou havia mais de 10. A paciente o ingeriu. Cinco minutos depois começou a bocejar e recostou-se na cama. Eram dez e meia passadas.

Depois da morte, todos os assistentes se reuniram na sala da casa para conversar e tomar um chá. A tranqüilidade e naturalidade da cena pareciam irreais e quase difíceis de imaginar em outros contextos culturais.

Quando tudo terminou, Julie, a neta, comentou: "Durante semanas me perguntei quais seriam nossas últimas palavras. O incrível foi que não dissemos nada especial. Foi uma conversa normal, como as de todos os dias". Pouco depois Julie saiu para a tempestade de neve que se havia formado lá fora para fumar um cigarro e, muito provavelmente, liberar as lágrimas retidas na presença de sua avó.

O passo seguinte foi informar a polícia, que enviou um jovem e compreensivo oficial para comprovar que não havia ocorrido qualquer violência nem existia suspeita de assassinato e para assinar os documentos pertinentes. Instantes depois chegou a médica legista para certificar o óbito e chamar os serviços funerários, enquanto os presentes conversavam ao redor da mesa instalada a menos de 2 metros do cadáver. Todo o processo foi, nas palavras de um dos voluntários, Philippe Dekens, excepcionalmente simples e rápido: "O importante é a convicção e o desejo de partir da paciente".

Três dias antes, na quarta-feira, 8 de março, Josiane havia comentado com a mesma serenidade com que enfrentou seu último instante o que mais lhe causava medo no processo: "Que o tumor tenha avançado tanto que me impeça de ingerir a poção".

Essa mulher, pianista e professora de música, uma apaixonada por Bach, suportava havia dez anos um câncer de mama que nos últimos tempos lhe havia alcançado a garganta. As dores eram tais que precisava consumir morfina de forma maciça e cotidiana. "No início tentei não encarar o problema com demasiada dramaticidade", explicava. Não quis seguir nenhum tratamento convencional, nem submeter-se a quimioterapia. Optou por terapias alternativas e homeopatia, segundo sua militância ecologista. Não via inconveniente em contar sua vida, em explicar os passos que a haviam levado a tomar essa decisão que se materializaria três dias depois. Muitas vezes seu discurso era interrompido por causa do câncer avançado, que lhe provocava problemas de voz e cada vez mais dificuldade para ingerir alimentos ou bebidas. O mal havia entrado em uma fase chamada de "necrose nauseabunda", o que em termos claros quer dizer putrefação. Toda a casa nessa quarta-feira estava impregnada do odor adocicado, desagradável e inesquecível da doença.

Josiane, divorciada, tinha três filhas maiores de 40 anos. Passou a etapa final de sua vida em um povoado na Suíça ocidental, no fundo do vale de Joux, entre montanhas de extrema beleza. A paciente optou por viver nesse local de Le Brassus para poder praticar seu passatempo favorito: a caminhada em plena natureza. "Durante oito anos vivi muito bem, sem muitas dores nem incômodos", afirmou nessa tarde de quarta-feira. Até que a situação se tornou intolerável e suas condições de vida degeneraram a ponto de tornar sua existência insuportável.

A partir daqui, a história dessa mulher teria sido semelhante à de milhões de doentes graves ou em fase terminal, exceto por um detalhe: Josiane era suíça. E nesse país a assistência ao suicídio não é proibida, mesmo que aqueles que a pratiquem não pertençam à profissão médica. Um curioso vazio jurídico, que partiu da absolvição de um militar que nos anos 20 emprestou sua pistola a um companheiro apaixonado e desprezado para que se suicidasse com um tiro, desembocou no artigo 115 do Código Penal suíço, que permite a "morte com dignidade".

Josiane decidiu fazer uso desse direito, e em 17 de outubro passado chamou a Exit. Não só isso. Josiane também concordou que um jornalista acompanhasse a ela e a seus parentes mais íntimos em seus últimos dias. "Mas não sei o que posso ter de interessante para contar", dizia. Mas nada de fotografias. Josiane, uma mulher de olhar claro e cabelo curto e grisalho, conservou até o final uma vaidade e um pudor que o impediu. "Ninguém quer ver o rosto de um doente terminal", explicou. Sua residência, a poucos passos da praça central do povoado, é modesta e tipicamente suíça. Com dois elementos de destaque: um velho cravo e centenas de livros.

"Conheci a Exit graças a alguns amigos que eram membros e que afirmavam que pertencer a essa associação lhes dava uma grande segurança, pois sabiam que eram os únicos donos de seu destino", comentou Josiane. Seu médico de cabeceira, embora a tenha respeitado, reprovou sua decisão e negou-se a estar presente no momento da despedida.

A Exit demorou quatro meses para aprovar o pedido de Josiane.

Até 1º de fevereiro não aceitou que seus membros acompanhassem e ajudassem até o final a professora de piano e lhe proporcionassem a substância letal necessária para efetivar sua "auto-entrega". Antes a associação precisou verificar que a mulher cumpria os requisitos que ela exige de qualquer pessoa que peça sua ajuda: capacidade de discernimento, que o pedido seja sério e repetido, que sofra de uma doença incurável e mortal e que além disso esta provoque grande sofrimento físico e psíquico.

Uma restrição adicional é o fato de que é preciso ser suíço. O motivo é que fora da Suíça ajudar um suicida é proibido, o que acarreta grande dificuldade para encontrar voluntários ou, no caso de encontrá-los, "muito desgaste emocional nos voluntários", segundo Jerôme Sobel, 53, prestigioso médico e fundador e presidente da Exit.

Essa associação, de que na Espanha existe um ramo chamado Direito a Morrer Dignamente, funciona na Suíça desde 1982 e conta com mais de 67 mil associados que pagam uma cota anual de 20 euros. Em 2005 ajudou 350 doentes a morrer. Sobel defende que "o fim da vida faça parte do plano oficial de estudos da escola de medicina" e afirma que seu maior desejo é que "a Exit desapareça e sua função seja desempenhada pelo médico de cabeceira".

"Minhas filhas concordaram com minha decisão, pois não quiseram me ver passar pelo inferno dos hospitais", comentou Josiane em sua casa, com a mesma calma de sempre, antes de acrescentar: "Não é a morte que me dá medo, mas o fato de não poder viver normalmente". A paciente mostrou-se convencida de que teve "uma vida plena", mas mesmo assim considerou: "É um pouco injusto partir agora e desta maneira. Não é o que eu imaginava como final da vida".

A paciente se confessou católica de formação, mas não praticante, embora tenha se declarado "convencida da existência de uma presença superior e benévola". Na opinião dela, não existe "qualquer contradição entre as crenças e a decisão adotada".

Na primeira semana de março, alguns dias antes de morrer, Josiane conheceu os dois voluntários que iriam acompanhá-la em todo o processo e que se encarregariam de lhe proporcionar, em seu devido tempo, um copo com o suco de laranja e pentobarbital. Eles se chamam Philippe Dekens e Dominique Roethlisberger.

Dekens, 55, é enfermeiro, de origem belga e vive na Suíça há dez anos. Uma experiência pessoal "próxima da morte" há dois anos o sensibilizou para o tema e ele decidiu ingressar na Exit. Realizou cinco "acompanhamentos" em 2005 e dois neste ano. Agora prepara-se para ajudar um paciente de 41 anos, vítima de câncer de próstata. Considera-se "um mero executor do desejo do paciente". Roethlisberger, por sua vez, é uma enfermeira especializada em psiquiatria que trabalha há seis anos com a associação. Segundo sua experiência, "em geral os pacientes estão tão convencidos de sua decisão que perderam o medo". Eles trabalham em equipe, o que é extremamente incomum na estrutura da Exit.

Marianne Tendon ingressou na associação em 1986 e hoje é a decana dos acompanhantes. Afirma que "uma das características mais duras do trabalho é que se estabelecem vínculos muito fortes com pessoas que serão perdidas em pouco tempo". Ex-educadora e enfermeira, Tendon afirma que nunca acompanha alguém com dúvidas, "seja por motivos éticos ou religiosos". Também opina que "as pessoas têm o direito de ser contra o suicídio assistido, mas só em sua própria vida", e que "ninguém tem direito a legislar sobre o sofrimento alheio".

O encontro final entre os dois acompanhantes e Josiane foi marcado para sábado, 11 de março. "Não tenho nenhum medo pelas questões práticas da vida dos que ficam, nem pelo que aconteça depois de minha partida, pois tive tempo de cuidar de tudo", contou Josiane três dias antes de morrer.

Sua "auto-entrega" foi combinada com sua família. "Tomei a decisão final no momento em que senti que tanto eu como minhas filhas estávamos maduras para assimilar isso", acrescenta. Nunca pensou em aceitar os cuidados paliativos que lhe ofereceram. "Todos esses tratamentos e terapias são tão caros e complicados que terminam sendo uma sangria inútil para a família e a sociedade", opinava com um pragmatismo tipicamente suíço.

A Exit não é a única associação suíça que assiste o suicídio. A segunda e mais conhecida internacionalmente é a Dignitas. Nascida em 1997, produto de uma cisão da Exit, situada em Zurique e fundada pelo advogado Ludwig Minelli, a Dignitas aceita pacientes estrangeiros. Essa prática controversa deu origem ao termo "turismo da morte", diante da grande quantidade de europeus que acorrem à Suíça em busca da ajuda que não podem obter em seus países. O Reino Unido convocou um debate parlamentar sobre o assunto este mês, diante do crescente número de cidadãos britânicos que recorrem aos serviços da Dignitas.

Minelli, que para justificar sua tese afirma que, por exemplo, na Alemanha "há um suicídio a cada 47 minutos", considera que "a sociedade aplica ao suicídio assistido a mesma hipocrisia que em seu tempo aplicou ao aborto".

Sem sentimentalismos

No sábado frio do encontro com Josiane em sua casa em Le Brassus, durante a viagem de carro, os dois voluntários da Exit se dedicaram a comentar outros casos, passados e atuais, com uma sobriedade absolutamente despida de sentimentalismo.

Pela conversa desfilaram todos os males que atacam os seres humanos: câncer, esclerose múltipla, Parkinson e diversas doenças degenerativas. Dekens refletia em voz alta: "No dia do acompanhamento não nos damos conta do que aconteceu. O golpe costuma chegar dois ou três dias depois, quando tudo já terminou". E acrescentou: "Muitas vezes se estabelece uma forte cumplicidade entre eu e o paciente. Tento, na medida do possível, não me apegar demais a eles, embora nem sempre seja possível. De outra maneira, esse voluntariado se transformaria em uma carga insuportável para qualquer um".

"As famílias em geral estão tranqüilas e aceitam a decisão", acrescentou. "Mas às vezes, raramente, encontramos uma hostilidade muito clara." O enfermeiro belga lembrou um caso em que o filho de um paciente começou a falar com seu pai, que acabara de tomar a poção, e a lhe pedir que não se fosse. Ele demorou mais de seis horas para morrer. O motivo, segundo o enfermeiro, estaria no inconsciente do doente: "Continuava trabalhando, mesmo sob o efeito do pentobarbital, impedindo que o corpo se entregasse para não magoar o filho que lhe pedia que não partisse".

Assim chegaram ao povoado de Josiane. Eram 8 da manhã.

Horas depois, com a chegada do médico legista e da polícia, os dois voluntários da Exit dão por terminada sua tarefa. E deixam a casa da mulher vítima de câncer para cumprir um ritual inevitável depois de cada "acompanhamento". Eles chamam de "fazer um banquete". Um restaurante de montanha recebeu os voluntários, que, com carnes regadas com uma generosa dose de vinhos franceses, comentaram os incidentes da partida de Josiane. Os comensais das mesas vizinhas mostravam-se visivelmente perturbados pelo tema da conversa. Mas eles falavam sem deixar que a sombra da tragédia ocupasse a mesa.
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves 
 

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

OSUEL & BEATLES FOR SALE


A Orquestra Sinfônica da Universidade Estadual de
Londrina (OSUEL) apresentou-se no CINE COM-
TOUR/UEL no dia 27 de maio de 2012 com a participação
da banda Beatles for Sale. Momento único de pura
emoção, parabéns aos idealizadores.
Curtam o show, na íntegra.



domingo, 26 de agosto de 2012

FILOSOFIA E DIREITO - DIREITO NATURAL E DIREITO POSITIVO


Em Antígona, o embate entre Direito Positivo e Natural

O universo feminino grego da época clássica pode também ser descortinadoem Antígona, conhecida peça de Sófocles, apropriada pelos saberes jurídicos, para efeitos de exemplificação de direito natural.
Sófocles nasceu em Colonos, perto de Atenas. Viveu em Atenas na época de Péricles, no século V A.C., momento de riqueza e de esplendor. Ambientou suas peças em torno de Édipo, o herói que matou o pai e se casou com a própria mãe. Antígona era filha incestuosa de Édipo, nascida do ventre da infeliz Jocasta.
Paul Harvey, em obra de referência de literatura clássica resume a poesia dramática de Antígona:
“Creonte, rei de Tebas, havia proibido sob pena de morte para os desobedientes o sepultamento do cadáver de Polineices. Antígona resolve desafiar o edito ultrajante e realiza os ritos fúnebres do irmão. Surpreendida nesse ato, ela é levada à presença do rei enfurecido. Antígona justifica seu procedimento como sendo ditado pelas leis soberanas dos deuses. Creonte, irredutível, condena-a a ser sepultada viva em uma caverna subterrânea.”
 Antígona desafiou a concepção positivista de norma, invocando regras transcendentais como justificativa para sua atitude de desafio. Sua ação deve ser avaliada num contexto, onde à mulher não era deferido o uso da lei, quando desprovida de direitos, num ambiente de poder masculino, mundo de homens. Ismênia, irmã de Antígona, realisticamente advertiu a heroína de que a condição feminina poderia diminuí-las:
“Convém não esquecer ainda que somos mulheres, e, como tais, não podemos lutar contra homens; e, também, que estamos submetidas a outros, mais poderosos, e que nos é forçoso obedecer a suas ordens, por muito dolorosas que nos sejam.”
O Coro, que talvez expressasse a opinião pública, admitia desigualdades, que em nada diminuiriam o gênero humano. Nesse sentido, utilizava-se a palavra “homem” como designativa de humanidade, em impressionante passo antropocêntrico:
Numerosas são as maravilhas da natureza, mas de todas a maior é o homem!”
Os textos de Filosofia do Direito em geral tomam o partido de Antígona, na luta da heroína contra o aparente radicalismo do rei Creonte. Porém, um dos irmãos de Antígona fora privado de sepultura porque traíra a cidade, lutando ao lado do inimigo. Justifica-se Creonte: “Não é justo dar ao homem de bem, tratamento igual ao  do criminoso”. Creonte insistia na aplicação da lei. Antígona representava comportamento merecedor de punição: “Quem, por orgulho e arrogância, queira violar a lei, e sobrepor-se aos que governam, nunca merecerá meus encômios.” Creonte fixou a pena:
“Levá-la-ei a um sítio deserto; e ali será encerrada, viva, em um túmulo subterrâneo, revestido de pedra, tendo diante de si o alimento suficiente para que a cidade não seja maculada pelo sacrilégio.”
Antígona sofria também penalidades indiretas que a privavam de existência plena de mulher:
“E agora sou arrastada, virgem ainda, para morrer, sem que houvesse sentido os prazeres do amor e os da maternidade. (...) Deuses imortais, a qual de vossas leis eu devo obedecer?”
Argumento que, ao indicar mulher desafiadora das leis da cidade, Sófocles problematizava o papel feminino. Leitura contemporânea se mostra enamorada da fragilidade da heroína. Leitura pretérita percebe leis que são desafiadas pela protagonista da tragédia. Enquanto leitores discutem se leis devem ser cumpridas sem crítica (assunto supostamente afeto ao positivismo normativista da tradição kelseniana), apoiando Antígona em detrimento de Creonte, optando pelo direito natural, esquece-se a tradição que um dos irmãos da heroína havia traído a cidade.
Antígona é fonte primária para o conhecimento do direito penal grego. Indica-nos a vingança pública (em substituição à vingança privada), a concentração dos poderes nas mãos de uma só pessoa, a ausência do princípio da reserva legal, a morte não identificada como razão extintiva de punibilidade, o clamor social contra decisão injusta. É de Sérgio de Oliveira Médici, procurador de Justiça e professor de Direito Penal, a seguinte passagem:
"É verdade que, ao sepultar o corpo do irmão, Antígona age sozinha. Mas não merece a reprovação social e, em razão disso, a condenação dela por Creonte faz com que a população considere injusta tal decisão."
A peça indica aspecto relevante do Direito Ático, o temor que a privação da sepultura exercia sobre as pessoas. Fustel de Coulanges, na Cidade Antiga escreveu:
"Nas cidades antigas a lei punia os grandes culpados com um castigo considerado terrível: a privação de sepultura. Punia-se-lhe assim a sua própria alma, inflingindo-lhe um suplício quase eterno."
Antígona é recorrente em estudos de Filosofia do Direito a propósito do Direito Natural e do Direito Positivo, no que toca à independência daquele em relação a esse. Perguntada por Creonte se desobedeceria sua determinação, respondeu Antígona, num dos mais famosos passos da literatura clássica:
"Sim, porque não foi Júpiter que a promulgou; e a Justiça, a deusa que habita com as divindades subterrâneas jamais estabeleceu tal decreto entre os humanos; nem eu creio que teu edito tenha força bastante para conferir a um mortal o poder de infringir as leis divinas, que nunca foram escritas, mas são irrevogáveis; não existem a partir de ontem, ou de hoje; são eternas, sim! E ninguém sabe desde quando vigoram! Tais decretos, eu, que não temo o poder de homem algum, posso violar sem que por isso me venham punir os deuses!
O excerto sugere dicotomia entre lei dos homens e lei dos deuses. Vislumbra perenidade nessa e volatibilidade naquela. Sobrepõe a lei divina à lei dos homens, subtraindo dos mortais o poder de diminuir as leis divinas, nunca escritas, mas irrevogáveis. 
Arnaldo Sampaio de Moraes Godoy é consultor-geral da União, doutor e mestre em Filosofia do Direito e do Estado pela PUC-SP.
Revista Consultor Jurídico, 26 de agosto de 2012

terça-feira, 21 de agosto de 2012

SOMOS BONS? SOMOS JUSTOS?

E a justiça, será que realmente somos justos, ou agimos com justiça por mera convenção social, por medo de uma coerção?

E a moral, a Ética...???


SOBRE ESQUERDAS E DIREITAS




Quando o Fernando Henrique Cardoso venceu a primeira eleição, o que eu mais queria era escrever uma crônica no dia de sua posse para debochar de sua obra sociológica, mas na época eu não tinha uma coluna. Eu ganhei a coluna na Veja anos depois e, por acaso, o Lula assumiu a presidência. Foi uma coincidência histórica. Se eu tivesse uma coluna dez anos antes, faria a mesma coisa com o FHC. Não vejo nenhuma diferença entre eles, não vejo nenhuma diferença entre direita e esquerda no Brasil. São bandos, são quadrilhas que querem ocupar o Poder´´ (Diogo Mainardi,``Roda Viva´´, da TV Cultura)

domingo, 19 de agosto de 2012

SERÁ QUE AMAMOS NOSSA FAMÍLIA APENAS POR UMA CONVENÇÃO SOCIAL???

Protocolos do afeto

A prática do afeto na convivência em família pode ser apenas protocolo para despistar o desespero


Famílias podem ser máquinas de moer gente. Uma das marcas de nossa fragilidade é depender monstruosamente de laços tão determinantes e ao mesmo tempo tão acidentais. O acaso de um orgasmo nos une. 
 Em meio a jantares e almoços intermináveis, o horror escorre invisível por entre os corpos à mesa. Talvez muitos pais não amem seus filhos e vice-versa. Quem sabe, parte do trabalho da civilização seja esconder esses demônios da dúvida sob o manto de protocolos cotidianos de afeto. 

Até o darwinismo, uma teoria ácida para muitos, estaria disposta a abençoar esses protocolos com a sacralidade da necessidade da seleção natural. Mesmo ateus, que costumeiramente se acham mais inteligentes e corajosos, tombam diante de tamanho gosto de enxofre. 

 Pergunto-me se grande parte do sofrimento psíquico e moral de muita gente não advém justamente da demanda desses protocolos de afeto. Da obrigação de amar aqueles que vivem com você quando a experiência desse mesmo convívio nos remete a desconfiança, indiferença, abusos, mentiras e mesmo ódio. 

A horrorosa verdade seria que existem pessoas que não merecem amor? Pelo menos não de você. Mas você é obrigado a amar irmãos, filhos, pais, avós, e similares. E, se não os amar, você adoece.

 Um sentimento vago de desencontro consigo pode ocorrer se um dia você se perguntar, afinal, por que deve amar alguém que por acaso calhou de ter o mesmo sangue que você? Alguém que é fruto de um ato sexual entre o mesmo homem e a mesma mulher que o geraram em outro ato sexual. 

 Quem sabe a força do "mesmo sangue" seja uma dessas coisas que a experiência moderna esmagou, assim como a crença, para muita gente já vazia, no sobrenatural, na providência divina ou no amor romântico. Sim, o niilismo teria aí uma de suas últimas fronteiras?

 É comum remeter esse vazio da perda dos vínculos de afeto ao mundo contemporâneo da mercadoria. Apesar de ser verdade que os laços humanos se desfazem sob o peso do mundo do capital, parece-me uma ingenuidade supor que o mal da irrealidade dos afetos seja "culpa" do capital. 

 É fato que a modernidade destrói tudo em nome da liberdade do dinheiro, mas é fato também que não criou a espécie em sua miséria essencial. A melancolia tem sido a verdade do mundo muito antes da invenção do dólar. 

 Por que devo amar alguém apenas porque essa pessoa me carregou em sua barriga por nove meses? Ou porque penetrou, num momento de prazer sexual, a mulher que iria me carregar em sua barriga por nove meses?

 Por alguma razão, questões como essas parecem mais sagradas do que Deus, o bem e o mal, ou a vida após a morte. Como se elas devessem ser objetos de maior fé do que as religiosas. Ou porque elas garantem a convivência miúda e tão necessária para a estabilização da sociedade. Só monstros colocariam em dúvida tal sacralidade. 

 Mas quantas horas nós passamos vasculhando nossas almas em busca de afetos que, muitas vezes, podem ser o contrário do que deveríamos sentir? Ou não achamos nada além da indiferença? Às vezes, a pergunta pelo amor pode ser apenas um protocolo contra o desespero.

 Estamos preparados para pôr em dúvida a normalidade sexual no caso de mulheres que gostam de fazer sexo com cachorros, mas não estamos preparados para suspeitar que grande parte de nosso amor familiar não passe de protocolo social. Rapidamente, suspeitaríamos que estamos diante de pessoas doentes e sem vínculos afetivos. 

 Por que, afinal, mulheres homossexuais correm em busca de "misturar" óvulos de uma com a barriga da outra, como se, assim, mimetizassem o coito reprodutivo heterossexual? Será que é amor por uma criança que ainda nem existe ou apenas um desejo secreto de ser "normal"? 

 Ter filhos é prova desse amor ou apenas um impulso cego que se despedaça a medida que os anos passam?

 Um dos nossos maiores inimigos somos nós mesmos, mais jovens, quando tomamos decisões que somos obrigados a manter no futuro. Com o tempo, algo que nos parecia óbvio se dissolve na violência banal de um dia após o outro. Como que diante de um espelho de bruxa. 

ponde.folha@uol.com.br


terça-feira, 14 de agosto de 2012

QUESTIONE - AUTONOMIA POLÍTICA

Os direitos do homem, dentro de uma autonomia moral dos indivíduos, só adquire uma figura positiva se ouver uma autonomia política dos cidadãos. (idéias Habermasianas). 

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

COM UM PEDAÇO DE GIZ

O video que está comovendo o mundo esta semana conta a historia de um menino que, para fugir da briga dos pais em casa e do bullying na escola, encontra a alegria na dança de rua. Existem momentos para sermos felizes.

  

terça-feira, 7 de agosto de 2012

DESMATAMENTO ZERO - GREENPEACE


A Liga das Florestas precisa de heróis. A fauna e a flora brasileiras estão em risco, e com elas o futuro do Brasil. Mas você pode ajudar a salvá-los. O Greenpeace lança, com outras organizações, um projeto de lei popular pelo desmatamento zero de nossas matas. Ao assinar a petição no site, e ao compartilhar e estimular seus amigos a fazerem o mesmo, você acumula pontos, ajuda a proteger um dos bens mais preciosos que o Brasil possui e ainda ganha prêmios. Participe!





quinta-feira, 2 de agosto de 2012

MUTIRÃO CARCERÁRIO - RAIO-X DO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO




Você já imaginou como é o interior de um presídio no Brasil? Se tiver estômago acesse o link abaixo.

http://www.cnj.jus.br/images/pesquisas-judiciarias/Publicacoes/mutirao_carcerario.pdf

De mitos e fantasias alimenta-se o imaginário popular sobre as prisões. Nossas ideias flutuam entre 
a existência de hotéis cinco estrelas e de pedaços do inferno, enquanto os cárceres se enchem cada 
vez mais de pessoas, muitas das quais pedem uma segunda ou terceira oportunidade que lhes 
permita situar-se de modo diferente perante o mundo.
Continuamos a abarrotar nossas prisões, tranquilizados pela ilusão eficiente de diminuir a 
delinquência, pondo atrás das grades os violadores das normas penais, mas não raro esquecidos 
da condição de seres humanos dos que, subtraídos momentaneamente do nosso convívio, 
abandonamos depois dos muros.
Uma reta consciência e uma preocupação social responsável nos indagam: o que esperamos 
de nossas penas e de nossas prisões? Cuidamos, com firmeza, que condenados podem voltar 
a integrar a sociedade com atitude respeitosa às normas jurídicas? Inquieta-nos o tratamento 
degradante que, como expressão do valor coletivo reconhecido à dignidade humana, lhes 
é reservado? Ou satisfaz-nos o alívio temporário que vem à sensação da contínua, mas 
insignificante e infrutífera desocupação das ruas?
Esta publicação, fruto do intenso trabalho dos chamados Mutirões Carcerários levados a efeito 
pelo Conselho Nacional de Justiça - CNJ há quase quatro anos, argui-nos a consciência e, à vista 
de cenas da perversa realidade prisional brasileira, reafirma a necessidade de urgente e profunda 
reforma das prisões e do sistema de justiça criminal como um todo, para remediar as condições 
pessoais e as estruturas físicas de encarceramento, bem como de prover os recursos humanos 
indispensáveis, como requisitos de possibilidade de reabilitação e reinserção 
dos habitantes desse universo.
Doutro modo, perpetuar-se-á a lamentável situação retratada, em que pessoas que cumprem 
condenações perdem, não apenas a liberdade, mas, sobretudo, as perspectivas de retomada de 
vida condigna e socialmente útil, quando a Constituição da República convida todos a construir 
uma sociedade justa e solidária, enraizada no respeito à dignidade da pessoa humana.
Ministro CEZAR PELUSO
Presidente do CNJ e do STF