quinta-feira, 29 de março de 2012

A SÍNDROME DO PÂNICO QUASE ACABOU COMIGO - DR. CARLOS BAYMA

Confissões do autor do Blog [1]: ‘A Síndrome do Pânico quase acabou comigo!’


Por Carlos Bayma
Sempre fui muito saudável. Minha família, dos dois lados, tem uma genética espetacular e longeva. Meu pai tem 83 anos e toma apenas um comprimido para a leve hipertensão arterial que possui, de uns cinco anos para cá. Joga tênis 4 vezes por semana, sendo duas delas em quadras descobertas na praia de Boa Viagem. Minha mãe tem 81 anos e anda 5 km diariamente, além de Pilates duas vezes na semana. Mal sabe ela o que é medicamento.
Em termos de doença, mal me lembro das que tive, exceto por uma Hepatite A em 1979 e uma úlcera gástrica em 1983, quando estava absolutamente estressado com o curso de Medicina que eu fazia. No mais, nada! Ressalto que a úlcera só ocorreu nessa época e foi curada em curto tempo. E nunca mais voltou! Hoje nem sei o que é azia.
Entretanto, já como médico, em 1994, fui apresentado a uma enfermidade cruel e potencialmente incapacitante. Trata-se da Síndrome do Pânico (SP) ou Transtorno do Pânico (TP).  Para quem não sabe o que é, sugiro que leiam aqui sobre o assunto.
Formei-me em Medicina no final de 1988. Durante o ano de 1989 servi como oficial médico do Exército Brasileiro. A partir de 1990 até 1993 fiz Residência Médica em Urologia, no Hospital Getúlio Vargas (Recife-PE). Nesse mesmo ano fiz pós-graduação em São Paulo, na AACD e na Unifesp.
O início
Estava recém-casado e minha esposa – à época – estava no 6º ou 7º mês de gestação. Tudo corria bem em casa (ou, pelo menos, aparentemente). Encontrava-me bem empregado, formando uma nova sociedade num clínica de urologia e não tinha problemas financeiros. Estava com 30 anos e não usava nenhum tipo de medicamento. Jogava bola e tocava bateria como meus amigos nos finais de semana. Até então, jamais havia usado ansiolíticos (calmantes, tranquilizantes) nem antidepressivos.
A sensação de morte iminente é indescritível, um terror incomparável! Mas passa em 15 a 30 minutos
Era uma segunda-feira, cheguei em casa perto da 20h. Estava cansado, exausto, mas estava tranquilo. Só queria tomar um banho, jantar e dormir. E assim o fiz. Por volta de 1h da manhã acordei com uma sensação horrível. De imediato imaginei: “Estou tendo um ataque cardíaco e vou morrer nos próximos minutos!” Senti uma sensação de vazio enorme, como se minha mente estivesse fora do corpo. O coração estava disparado e sobrevinha uma sensação de dificuldade para respirar. Comecei a suar e a ter náuseas terríveis. “Pronto! Chegou minha hora”, disse eu, complementando: “Vou morrer. Espero que seja rápido!”.
Serviço de Emergência
Corri para o elevador, peguei o carro e segui em disparada para uma emergência cardiológica (quem já viu alguém à beira da morte correr e dirigir carro!). Chegando ao hospital, já não me sentia tão mal. Pensei que era pela segurança do socorro necessário à mão (mas não era; as crises duram geralmente de 15 a 30 minutos, independente dos fatores que as cercam). Fui medicado com um Lexotan após comprovação que meu coração funcionava perfeitamente.
Voltei para casa as 2h30 da manhã, com certo medo, mas falsamente tranquilo pela ingestão do tranquilizante. Nos meses seguintes, nada mais aconteceu. Até que…

Por Carlos Bayma
Leia a primeira parte (Confissões do autor do Blog [1]: ‘A Síndrome do Pânico quase acabou comigo!’)
Até que… Segundo ataque. Terceiro, 4º, 5º, etc. Em um mês muitos ataques de pânico. A sensação que predomina é esta: “Estou sem saída!”. Por fim, as crises eram tão frequentes que fiquei impossibilitado de trabalhar e- até mesmo – de sair de casa. Não é raro nesses casos a superposição de um quadro de depressão (ou pânico e depressão são irmãos siameses?!).  E a depressão chegou. Fulminante! Em 3 ou 4 dias eu estava na cama, literalmente. Sair para urinar era um sacrifício hercúleo.  Comida dava náuseas. O sono é uma droga. Ouvir vozes é um tormento. Aí começaram os preconceitos (conceitos formados apressada e superficialmente, quase sempre errados): “Você tem que reagir!” “Não se entregue!” “Lute. Tenha fé que você sai dessa!”
Se não sabe como ajudar, não ajude!
Deixem-me dizer uma coisa para vocês que têm um parente ou um(a) amigo(a) com depressão: jamais digam essas baboseiras. Não ajudam em nada! Ao contrário, só pioram as coisas, pois tudo isso só faz o deprimido se sentir – embora não seja verdade! – um fraco, inútil e inadequado, incapaz de uma reação, aparentemente óbvia e simples. Existe uma dessas baboseiras que considero a pior: é quando sua situação é comparada com a de outros, tais como àqueles que estão com câncer e continuam rindo, criancinhas que passam fome, mendigos que dormem na rua, mães que perderam filhos, etc. Não é adequado comparar. Não há como comparar. Não estar na pele do(a) depressivo(a) é por demais fácil para se falar o que se quer, mesmo que intenção seja boa. Mas intenção boa pode atrapalhar. Se não exatamente o que fazer ou dizer, não diga ou faça nada! Apenas fique junto: mostre-se solidário, mas calado. Só responda!
Antidepressivos: a “salvação” que cobra caro
Antidepressivos: um mal necessário?
Pois bem, depois de muito sofrer, emagrecer 4kg em 10 dias e não encontrar sequer um lampejo de saída, fui apresentado ao mundo psiquiátrico/psicológico e aos antidepressivos. E o pior: os antidepressivos, promessa de solução, pelo menos paliativa, piora a depressão nas primeiras 2 a 4 semanas até que comece a fazer efeito. Não queiram saber o que é tomar um remédio tido como salvador, mas que traz efeitos colaterais terríveis nas primeiras semanas. Além de deprimido, eu passei a ter dificuldade para urinar, fiquei com constipação intestinal, meu coração disparava o tempo todo e a boca era uma secura só. Tem mais: libido zero, ereção sofrível e ejaculação ausente. Foi assim no primeiro mês.
E o céu começa a se abrir, mas ainda existem nuvens carregadas rondando
Depois do primeiro mês, as coisas se acalmaram. Já não me sentia tão pra baixo e as crises cessaram. O problema é que eu estava tomando um antidepressivo antigo, da classe dos tricíclicos, chamado Clomipramina. Os efeitos colaterais relatados acima cederam um pouco, mas surgiram outros: uma fome gigantesca e ondas de calor alternadas com sensações de frio (distermia, ou seja, distúrbio da temperatura corporal). Quando entrei em depressão tinha 67kg. No auge do sofrimento, estava com 59kg. Três meses após o início da Clomipramina, eu já contava com 74kg (cheguei a estar com 89kg, tempos depois).
Apesar do sol, as nuvens carregadas permanecem à espreita
Bom, pelo menos não estava mais depressivo (ao contrário, fiquei até meio eufórico) e as crises de pânico pareciam se diluir no tempo. De certa forma era um vantagem: gordinho, com pouca “potência”, mijando lentamente, evacuando com dificuldade e só a cada 3 dias (antes era diário e sem dificuldade), comendo de tudo  e sem saliva, mas já conseguia trabalhar e resgatar parcialmente as atividades sociais e familiares.
Apesar da aparente calmaria, considero o relato do parágrafo acima uma verdadeira “bomba-relógio”. E era! Só não explodiu, mas chegou perto…

Confissões do autor do Blog [3]: ” Angústia e ansiedade não são inimigas!”





Por Carlos Bayma
Aceitação! Essa é a palavra chave na depressão / síndrome do pânico. Tira toda a resistência, deixa fluir, facilita tudo! “Lutar contra”“Vencer a” depressão: caminho equivocado. Como você, pobre mortal, cheio de superstições, crenças falsas e fragilidade mental e emocional, vai lutar contra a depressão? Você não tem força nem pra sair de casa, como vai vencer a depressão?
Aceitar que está em depressão é o grande passo. Quem disse que a depressão e a síndrome do pânico são suas inimigas? De onde vem a ideia maluca de que a depressão é só um problema bioquímico do cérebro? Pergunto: o que provocou essa redução dos neurotransmissores em seu cérebro? Genética? Duvido!!!
Você já viu uma vaca em depressão? Ou um cachorro (gato, papagaio, etc.)? (Eles têm cérebro!) Cachorro eu já vi, mas só aqueles que convivem com seres humanos igualmente depressivos, paranoicos.
Há um tempo, escrevi para o blog De Caso Com a Medicina, da jornalista Cristina Almeidasobre Angústia e Ansiedade, gatilhos da Depressão e do Pânico. Leia abaixo e opine:
<< Durante quase toda minha vida convivi com um software cerebral chamado LUTAR CONTRA. Havia em mim a crença de que a situação, ou pessoa indesejada, tratava-se de um oponente que devia ser combatido. Eu criava os inimigos em minha mente, e eles tinham que ser combatidos e derrotados. Só assim eu seria feliz.
Entretanto, há alguns anos li a seguinte frase: “Quem é batalhador, lutador, guerreiro, está na guerra. E quem está na guerra, não pode estar na paz”. Em geral, as pessoas lutam contra alguém ou algo. E o interessante é que o objeto da luta, quando é confrontado, só tende a crescer. Percebi também que, se dele tentamos fugir, ele ganha maior espaço e força, transformando-se num inimigo perseguidor.
Isso gerou um dilema: luto contra, ou fujo? Haveria uma terceira via? Na verdade, sempre há, mas ela não deve ser chamada de terceira, pois é, sim, a primeira e mais adequada via. Em vez de partir para a luta, fiz algo diferente. Aproximei-me do inimigo, e o observei longa e atentamente. Por que ele estava aqui? Por que não desgrudava de mim? Quem o colocara dentro ou perto de mim?
Após ter respirado profunda e lentamente, me deixei levar, como alguém que desce um rio sem tentar remar contra a maré. A névoa foi se dissipando, as cortinas lentamente se abriram e fui entendendo tudo, compreendendo suave e euforicamente que não havia inimigo algum. A ansiedade que eu sentia, até no sono e nos sonhos, não era minha oponente. A angústia que machucava não estava ali para me punir. Com o passar do tempo, aprofundando cada vez mais, percebi que ambas eram até gente boa. Se eu sentia angústia e ansiedade, essas emoções eram criaturas que eu nutria e estimulava dia após dia. Elas não faziam parte do meu mundo exterior.
Angústia e ansiedade não são inimigas; são sintomas de autoabandono!
Então, o grande insight. A angústia e a ansiedade, de fato, eram minhas amigas! Portanto, não havia razão para lutar ou fugir. Parei para ouvi-las. Escutei-as atentamente. E a angústia me disse: “Eu sou sua memória, seu passado. Nasci quando você se achou inadequado, fracassado ou derrotado. Quando sentiu culpa ou vergonha de atitudes, pensamentos e sentimentos e tentou escondê-los de si e dos outros. Não sou seu juiz, nem seu carrasco. Só quero que saiba que não há do que se envergonhar ou se culpar, pois você fez aquilo que estava ao seu alcance, com os elementos de que dispunha na época. Perdoe-se, e esqueça tudo. Não há pendências, mas se ainda julgar que há, repare-as”.
Em seguida, veio a ansiedade, que foi clara e direta: “Eu sou o seu futuro, suas expectativas, preocupações e ilusões. Mas, de verdade, ainda não cheguei, pois você está no presente. Portanto, ainda não existo. E mais, nunca existirei, porque quando chegar a mim, serei o presente e, bem rápido, serei passado. Só há vida no agora. A vida é uma sequência de agoras. Só isso. Não há com o que se pre…ocupar. Desça o rio sem resistência, sem batalhas. Apenas desça. Confie na incerteza, pois o rio certamente chegará ao mar”.

Há quatro anos, após um grave acidente de trânsito, que me deixou em coma por algum tempo, despertei e compreendi: angústia e ansiedade são, na verdade, avisos, sinais de alerta. Por isso, não são oponentes. Não há porque lutar, muito menos fugir. Para mim, essas emoções apenas sinalizaram o quanto abandonei a mim mesmo. E, o mais importante, tiveram a função de me recolocar no único lugar e momento em que eu posso verdadeiramente Ser: no presente, no agora!



Carlos Bayma é médico especializado em Urologia e Psicossomática. Chefe do Setor de Urodinâmica do Hospital Esperança (Recife-PE), é também autodidata em Física Quântica, Metafísica da Saúde, Música e Fotografia. Autor do Projeto CPM40+ e colunista da Revista Mon Quartier, na seção Saúde em Revista.